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quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

MEMORIAL DO LEITOR

"Oswaldo com W"


A única coisa que tenho certeza absoluta em relação as minhas lembranças de infância, aos anseios de meus pais sobre meu futuro, aos meus sonhos, é que a profissão de professor não estava em nossos planos. Engenheiro, arqueólogo, desenhista, ator, até baterista de banda de rock eram algumas das opções...felizmente, acredito, não segui nenhum desses caminhos. Tenho uma imensa capacidade de adaptação e creio fielmente que estou na profissão, perfeita.

Não me recordo qual foi o primeiro livro que tive em minhas mãos, ao menos de literatura, mas, lembro-me muito bem que vivia “fuçando” uns livrinhos que meu pai comprava toda semana nas bancas de jornais. Suas folhas eram amareladas e tinham um cheiro bem particular. Eram sempre histórias de faroeste (é assim mesmo que se escreve?!): cavalos, cownboys, fazendas, índios (Apaches), um valentão, a mocinha e um bandido. Bang-bang!

Outra lembrança muito clara, que também vinham das bancas de jornais, eram os livros de histórias infantis com discos acompanhando, discos de vinil, compactos com musiquinhas para acompanhar a leitura dos contos de fadas: “Eu vou, eu vou, pra casa agora eu vou...”; “Quem quer falar com a senhora baratinha que tem fita no cabelo e dinheiro na caixinha”. Eram sensacionais!

Fui alfabetizado muito cedo, aos cinco anos já lia e escrevia! E adorava! Minha irmã, que também é minha madrinha, toda semana me trazia, além dos livros de histórias, trazia também cadernos de caligrafia que eu degustava vorazmente. Livros enormes: Me deixavam louco de curiosidade, “O corcunda de Notre dame”, “Dom Quixote de La Mancha”, devorei-os.

A literatura brasileira e portuguesa só entrou em minha biblioteca particular na época do ginásio (atual 6º ao 9º anos). E entrou de forma trágica. Um tal de Oswaldo, professor de português que não suportava (A antipatia não era gratuita. Ele substituiu um professor de português que gostava demais! E o pior que não lembro o nome dele, sabia?). Pois é, o professor Oswaldo (com “W”) me obrigou a parar de ler um livro de literatura americana excelente, “Mobydick”, para ler um livro chamado “Cazuza”-nada a ver com o cantor, tá?!- que não sei o nome do autor. A prova bimestral foi toda sobre esse tal de “Cazuza” e eu desandei a falar mal da obra, esculaxei. Ao entregar a minha prova, ele, o “Oswaldo” me deu o maior sermão como se eu estivesse jogando pedra na cruz ou defamando a virgem Maria. Falou que iria me dar zero. Rasguei a prova na cara dele e saí de sala. Descendo as escadas correndo, eu estudava no quarto andar, torci o tornozelo. Resumindo: uma noite de dores insuportáveis sem dormir. Pronto socorro na manhã seguinte. Uma semana sem ir pra escola, que era o pior de tudo. E tudo culpa desse tal de professor Oswaldo com “W” e esse tal de “Cazuza” – Será que alguém pode me dizer quem é o autor deste livro?! Preciso lê-lo novamente, mesmo que mais de trinta anos depois...nunca é tarde para se ler um livro.

Livros, livros e mais livros me acompanharam toda a minha vida, não faço nem idéia de quantos eu já li. Eles me fizeram sonhar, chorar, entristecer, alegrar...me fizeram viver. Só é lamentável não ter mais tempo para lê-los, sou professor de português. Essa minha antítese grotesca (deve ter sido praga daquele tal de professor Oswaldo com “W”). Todavia, quem só tenho a agradecer: Obrigado professor.

Julio Cesar de Amorim

Maxaranguape, RN. 16/12/09.

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